Arno Rochol: "O importante é não se fixar em resultados"

A4 - Qual é a vantagem de oferecer idéias ao invés de arrecadar dinheiro?
Arno Rochol - A vantagem de uma ideologia como a do Grupo Gaia é que ela busca fazer com que cada uma e cada um de nós se conscientize de que vivemos numa grande família. Não só a família humana, mas a planetária. E enquanto cada um de nós não se conscientizar disso, seguiremos vivendo em estruturas hierárquicas, nas quais uns poucos detêm o poder, o dinheiro e o saber, e os demais são “coisas” que só existem para ser exploradas e estar a serviço dessa minoria.

A4 - Respeitar as vidas condiz com não comer carne ou, mesmo, vegetais?
AR - Todos os seres tem necessidades, como a de se alimentar. Não se trata, portanto, “só” de não comer carne ou de ter que ser vegetariano. Trata-se de “visão”, de ideologia. E nisso, cada pessoa deve escolher a sua própria e buscar o seu caminho. A ideologia gruga só tem dois princípios: o primeiro é o respeito pela Vida, como o nosso dom máximo; e o segundo é o respeito à vontade que todos os seres têm de viver à sua maneira, e em liberdade.

A4 - “Ou substituímos o sistema capitalista por outro ou ele acabará conosco”, diz o blog do grupo. Qual sistema, então, teria sucesso?
AR - Não se trata de copiar modelos, seja do tipo comunista ou socialista. Muito menos de ver algo só pela perspectiva de “vitória e sucesso” ou de “derrota e fracasso”. Na ideologia do Grupo Gaia partimos do indivíduo que busca um caminho de vida e lhe oferecemos princípios de orientação para este seu caminhar. Uma outra coisa importante é não se fixar em resultados. Quase todas as doutrinas, com exceções como panteísmo, budismo e taoísmo, se fixam cegamente no seu ideal, chegando a contradizer os próprios princípios para atingi-lo. Portanto, não importa tanto se a meta terá “sucesso” ou “fracasso”, mas sim o caminho que leva a ela.

A4 – Mudar a economia não traria prejuízos, já que muitas nações são capitalistas?
AR - Já estamos vivendo de acordo com o dito popular de que “se ficarmos, o bicho come. Se corrermos, o bicho pega”. Vejam os milhões de sem-teto, sem-terra e de esfomeados! Vejam as diversas formas de escravidão existentes atualmente! Mais de 2 milhões de pessoas ainda morrem de tuberculose no mundo! Mas preferimos nos cegar com sensacionalismos do tipo “gripe suína”. Cerca de 30 mil crianças com menos de cinco anos morrem a cada dia em todo mundo por não ter acesso a serviços básicos de saúde. Mas adoramos fazer de conta que não é conosco. Precisamos mudar nossa economia e aplicá-la em seu sentido original: de leis e costumes que regulamentem a vida no nosso lar, a terra, de maneira equilibrada e justa. E isso só será possível através de uma visão holística e não capitalista.

A4 - Aludindo à Gaia, o grupo pode ser desprezado e ser tido como culto pagão, não?
AR - É bem possível! Mas ser desprezado por pessoas que se colocam na posição de juiz não me atinge pessoalmente, nem como Grupo Gaia. Também não é ofensa se formos chamados de culto pagão, uma vez que para nós, o mais importante é o respeito por todos os seres. Inclusive pelos pagãos! Eles, a princípio, não são melhores nem piores que muçulmanos, cristãos, hinduístas etc. O Grupo Gaia não é uma religião, nem tem deuses. Só princípios orientadores.

A4 - Em suma, como é ser um "gruga" (seguidor do Grupo Gaia)?
AR - Um gruga é uma pessoa que tenta fazer o que pode para viver feliz, em sintonia consigo e com os demais seres.